Historicamente na Igreja Católica o surgimento de homens virtuosos que buscavam viver segundo o que o próprio Cristo havia deixado, fora sempre muito recorrente. Muitos até mesmo derramando o seu sangue por essa verdade, não por acaso no dia de hoje (17/10) comemoramos Santo Inácio de Antioquia que passou pelo martírio no séc. II, no Coliseu de Roma, jogado às feras não deixou mesmo assim assim de anunciar “Realizemos todas as nossas ações com o único pensamento de que Deus habita em nós”.
Esses primeiros homens, contemporâneos da igreja primitiva já eram declarados santos após sua morte e nascimento para Deus. Com o tempo foram surgindo muitos novos homens, de comprovada virtude, mas que exigia da igreja cautela para avaliar se essa vida foi de fato um caminho sólido para Céu. Deste modo, a Igreja iniciou processo que hoje funciona da seguinte forma:
1º Postulador da Causa de Beatificação/Canonização. Para cada causa é escolhido pelo bispo um postulador, espécie de advogado, que tem a tarefa de investigar detalhadamente a vida do candidato para conhecer sua fama de santidade
2º Verificação das Virtudes ou Martírio. Este é o passo mais demorado porque o postulador deve investigar minuciosamente a vida do Servo de Deus. Em se tratando de um mártir, devem ser estudadas as circunstâncias que envolveram sua morte para comprovar se houve realmente o martírio. Ao terminar este processo, a pessoa é considerada Venerável.
3º Milagre da Beatificação. Para se tornar beato é necessário comprovar um milagre ocorrido por sua intercessão. No caso dos mártires, não é necessária a comprovação de milagre. No caso de Adolfo Kolping houveram dois, conforme descreveremos mais adiante.
4º Milagre para a Canonização. Este tem que ter ocorrido após a beatificação. Comprovado este milagre o beato é canonizado e o novo Santo passa a ser cultuado universalmente
O atual secretário da Congregação para a Educação Católica arcebispo Dom José Saraiva Martins, explica que a diferença entre a canonização e a beatificação reside no fato de que:
- a Beatificação declara santidade de vida do beato e é permitido culto público em sua honra no ambito limitado de uma diocese ou de uma instituição eclesiástica
- a Canonização implica uma declaração especialmente solene de santidade e prescreve o culto público em toda a igreja.
Portanto enquanto a primeira tem dimensão local, a segunda possui uma dimensão universal.
No caso de Adolfo Kolping, houveram muitas ocorrências e agitações no contexto global que contribuíram para que esse processo levasse algumas décadas até São João Paulo II beatificá-lo em 1991.
CRONOLOGIA
08/08/1906. O Cardeal Grusha, arcebispo de Viena, solicita ao arcebispo de Colônia, Cardeal Fisher, iniciar o processo de beatificação do Pe. Adolfo Kolping, sem grandes resultados. Isto confirma a profunda admiração que rodeava o Pe. Kolping, mesmo fora da Alemanha. Até 21 de março de 1934 já eram 21 mil pessoas inscritas no livro de petições e em 1938 eram 310 mil inscrições. Na 2ª Grande Guerra muitos documentos são destruídos e morrem os últimos contemporâneos do Pe. Kolping. Em 1955 o Tribunal, em Roma, aprova os seus escritos originais.
Em 1926 iniciaram realmente os preparativos para a beatificação coletando os testemunhos das pessoas que conheceram pessoalmente Kolping. Mas também desta vez os trabalhos seriam dificultados por causa do nacional socialismo (partido no poder) que criou dificuldades para a igreja e para as associações.
Em 1948 retomam-se os trabalhos e em 18/08/1950 estava concluído o processo de informação sendo os documentos enviados a Roma, e o processo de escritos (exame das cartas e diários Kolping) foi concluído em 1955 com um voto positivo do papa Pio XII.
Em 1960 é transladado o corpo de Kolping para a Igreja dos minoritas, mas nos anos seguintes o processo parou.
Em 1969 o Cardeal Hoffner, de Colônia e o Mons. Festing, Praeses da Obra Kolping Internacional, se empenham na causa de beatificação, acompanhando de perto todos os procedimentos e exigências do processo. Nomeando uma comissão para examinar e avaliar todo o material existente.
Em dezembro de 1978 o cardeal Bafile, prefeito da congregação de santificação, manifesta seu interesse especial pela causa de Kolping. Ai veio a elaboração do volume que recolhe todos os fatos relevantes para a beatificação. Este trabalho foi concluído e enviado para Roma nos anos 80. E a comissão romana responsável concluiu o exame dando parecer positivo.
Em 6 de outubro de 1986, Mons. Festing entreg o documento final de 900 páginas para o julgamento da Congregação Romana. O Papa João Paulo II tendo já aprovado (13/05/1989) o processo, vai declarar solenemente a beatificação de Adolfo Kolping, em Roma no dia 27/10/1991.
Foi um longo processo de 85 anos de trabalhos interrompidos durante duas Guerras Mundiais (1914 à 1918 e 1939 à 1945) e dificultado no período pós-guerra com reconstrução da Europa e especialmente da Alemanha depois do Nazismo.
O PROCESSO DOS MILAGRES.
O Cardeal Hofner nomeou uma comissão sob a direção do Pe. Prof. Dr. Paul Zepp SVD, a fim de examinar os relatórios de cura existentes. Para avaliação medicinal recorreu-se a médicos internacionalmente reconhecidos. Após o reconhecimento da credibilidade de uma cura sobrenatural pela comissão diocesana, toda a documentação foi novamente examinada por um grêmio médico em Roma e, por conseguinte, segundo o direito canônico, somente após a proclamação do grau heroico de virtudes, podia ser dado o início.
Em 24 de janeiro de 1990 os 5 componentes do grêmio médico romano unanimemente julgaram: a extremamente rápida, completa e duradoura cura tem explicações baseada em nossos conhecimentos científicos. Em consequência a comissão teológica na sua sessão “super miro” em 18 de maio 1990 reconheceu a validade importante das provas jurídicas e teológicas e neste contexto – dentro da estreita ligação de causa e efeito – entre as invocações do Servo do Senhor, Adolfo Kolping e o maravilhoso a conhecimento da cura constatada. Em 23 de outubro de 1990 a comissão cardinalícia corroborou o julgamento dos teólogos.
Com a promulgação do decreto sobre o processo miraculoso, em 22de janeiro de 1991 o Santo padre encerrou todo o processo de beatificação será realizada em Roma dia 27 de outubro de 1991.
O milagre, descrito no processo de Beatificação
“Quero registrar o fato de que Adolfo Kolping atendeu minhas orações:
Um amigo nosso, de 42 anos, ficou repentinamente doente. O atendimento médico em nada melhorava o seu estado. Numa conceituada Clínica de Colônia (Alemanha) a doença foi diagnosticada: era câncer.
Sua família foi informada; fizeram-lhe outra operação; como prognóstico, ele teria poucos dias de vida. Quando soubemos disso, como minha família é membro atuante da Obra Kolping, começamos a rezar, com muita confiança, para o seu fundador, Adolfo Kolping. Enviamos, um livrinho de orações com uma carta à esposa do doente. Ela também se pôs a rezar. E aconteceu o milagre! Este homem, desenganado por todos, já estava em casa naquele fim de semana. Os médicos estão diante de um mistério. Pelo exame de sangue e por todos os outros exames, ele está curado.
Foi uma intervenção de Deus obtida pela intercessão de Adolfo Kolping. Esperamos que este homem se conserve sadio por muitos anos junto com sua esposa e filhos. Depois disso cresceu ainda mais a minha confiança em Adolfo Kolping, que é a modelo vida.”
Breve informação sobre o milagre.
Em novembro de 1975, em Colônia, na Alemanha, o Sr. Hans Weber, de 42 anos ficou doente. O exame médico constatou que ele estava com câncer. Depois de duas cirurgias, sua família foi informada de que lhe restavam poucos dias de vida. Um amigo seu recomenda à sua esposa rezar, com fé, pela intercessão do Padre Adolfo Kolping em poucos dias ele ficou completamente curado.
Novo exames confirmara o fato, reconhecido na época por uma Comissão Médica de Colônia, como inexplicável pela medicina, foi examinado em 24/01/1990 por uma perícia de 5 médicos de Roma que comprova a cura como um milagre tal como ela se deu: foi extremamente rápida, completa e duradoura.
Fontes.
CANÇÃO NOVA. As etapas de um processo de canonização < https://noticias.cancaonova.com/brasil/as-etapas-de-um-processo-de-canonizacao/ >
MARTINS, José Saraiva. Como se Faz um Santo. 2005 Aletheia Editores. Lisboa-PT